"A Última Carta de Amor" traz de volta o clássico romance dramático, que envolve e emociona.
O romance tem sido um gênero que há tempos não emplaca boas películas em Hollywood. A principal razão do insucesso e desagrado por parte do público tem se concentrado especialmente nos roteiros, que não envolvem e muito menos emocionam, regra básica de qualquer romance que se prese. Para mudar esse cenário, nada melhor do que uma adaptação de um livro de sucesso para quebrar esse jejum.
JoJo Moyes, autora que ficou conhecida pelo best seller Como Eu Era Antes de Você, tem mais uma de suas obras adaptadas. A Última Carta de Amor (The Last Letter From Your Lover) é um romance dramático britânico escrito por Nick Payne e Esta Spalding, dirigido por Augustine Frizzell e produzido pela Netflix.
A história conta com duas linhas temporais, que a fotografia do filme (brilhante por sinal) faz questão de ressaltar. Nos tempos de hoje, Ellie Haworth (Felicity Jones) é uma jornalista que, enquanto estuda alguns documentos antigos para escrever uma matéria com a ajuda do arquivista Rory (Nabhaan Rizwan), encontra cartas de amor. As cartas são tão profundas e emocionantes que ela resolve investigar mais a fundo a origem e pessoas por trás daquelas lindas mensagens de amor. E é a partir daí que mergulhamos na história de amor entre Jennifer Stirling (Shailene Woodley) e Anthony O'hare (Callum Turner), que será de fato a trama central.
Ambientada na década de 1960, e contando com uma direção de arte e figurinos belíssimos, além de locações que são um charme a parte, somos apresentados a Jennifer, uma mulher com um pensamento progressista, mas que vive um casamento infeliz. Ela conhece Anthony, quando ele vai até sua casa escrever uma matéria sobre o marido dela, Laurence (Joe Alwyn). Os dois, após uma breve troca de farpas, iniciam uma amizade, e não demora até se apaixonarem perdidamente um pelo outro. Obviamente, como todo bom romance, muitos são os obstáculos e reviravoltas para ambos viverem essa relação e é justamente isso a mola propulsora do filme. Dessa forma, assim como Ellie, o telespectador entra numa jornada de descoberta do destino daquele romance e o que aconteceu com cada um dos envolvidos.
Shailene Woodley é sempre uma escolha acertada quando se trata de filmes do gênero. A atriz que se destacou em A Culpa é das Estrelas (2014), repete o ótimo desempenho, entregando uma personagem que enfrenta as barreiras impostas pela sociedade de sua época com paixão e determinação. Callum Turner, um ator que cada vez mais faz seu terreno no cinema, que tem como um dos seus principais trabalhos Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald (2018) e o filme Emma (2020), consegue evocar os ingredientes necessários para que possamos torcer pelo casal, ainda que essa seja uma relação amorosa de certa forma proibida. Os dois têm muita química, algo essencial, e nos fazem vibrar quando contracenam juntos.
Um destaque do filme se encontra especialmente em sua trama paralela, que envolve Ellie e Rory. Enquanto em alguns filmes acabamos desenvolvendo mais apego por sua história central, de modo que quase desprezamos o que acontece com os demais personagens, aqui não é bem isso que acontece. O desenvolvimento dos arcos dos personagens coadjuvantes é tão leve e cativante, que essa trama passa a importar, quase tanto quanto a outra. Felicity Jones (Rogue One: Uma História Star Wars) traz uma personagem que tem dificuldades de se relacionar, principalmente por mágoas e traumas do passado, e capricha com seu humor ácido no ponto certo. Nabhaan Rizwan é simplesmente um achado. Ele interpreta aquele cara tímido e extremamente fofo e é impossível não curtir o desenvolvimento desses personagens, algo que contém o clássico toque de JoJo Moyes na sua construção de narrativas.
De forma sutil, é possível traçar um paralelo entre as duas histórias, já que são romances quase que antagônicos entre si, o que torna tudo ainda mais especial. A direção acertada e os recursos técnicos, em especial sua iluminação, ajudam bastante nesse quesito.
O filme traz ainda várias mensagens que importam. Pra começar, ele mostra com honestidade que nem sempre a vida tem o desenrolar dos sonhos. Na verdade, na maioria das vezes, é o contrário disso. A narrativa ensina que o caminho não é nada dentro do previsto e que uma decisão é capaz de impactar e alterar nossas vidas completamente. E é claro que não pode faltar a mensagem de que nunca é tarde, já que o amor transpões as barreiras do tempo. Essa é aquela mensagem pra deixar o coração quentinho.
O objetivo dessa crítica não é comparar a trama com seu livro de origem. Até porque em boa parte das vezes a obra para o cinema sairá perdendo no comparativo. Dessa forma, o filme é sim satisfatório e entrega um romance competente. Ainda que repleto de clichês novelescos, e apresentando alguns arcos pouco contextualizados, entre eles o casamento em si entre Jennifer e Laurence, somado às inúmeras "escapadelas" do casal Jennifer e Anthony em plena década de 1960 sem chamar atenção alguma da sociedade, o longa-metragem é apaixonante. Como é bom retomar as sensações de filmes tais como Cartas para Julieta (2010) e Diário de uma Paixão (2004).
A Última Carta de Amor consegue nos prender do início ao fim e entrega aquele romance apaixonante, com direito a beijo na chuva, de que o público amante do gênero ama e suspira ao assistir.
Nota: 7,5
Postar um comentário