A terceira temporada de Virgin River desperdiça tempo demais em amenidades e enfatiza seus melhores arcos apenas em seus episódios finais.
No mês de julho, a Netflix lançou em seu catálogo novas temporadas de várias séries que são do gosto popular. Ocupando o top 10 Brasil, desde sua estreia no dia 09 de julho, Virgin River chega à sua terceira temporada trazendo novamente todos aqueles elementos que seus fãs tanto gostam: muito romance, paisagens fantásticas e as boas e velhas tretas de cidade pequena.
A série americana, que é baseada na série de livros de mesmo nome escrita por Robyn Carr, teve alguns contratempos gerados pela pandemia, uma vez que a série é gravada em Vancouver, no Canadá. Por essa razão, a atriz Annette O'Toole, que interpreta a prefeita Hope, uma personagem de destaque no show, teve sua presença prejudicada ao longo da temporada, pois não pôde se deslocar para o set de gravações e o roteiro precisou sofrer uma adaptação para se adequar a essa situação.
Antes de discorrer sobre os dez novos episódios é importante relembrar que o final da segunda temporada reservou fortes emoções. Jack (Martin Henderson) foi baleado de forma misteriosa enquanto trabalhava em seu bar e é a partir daí que surgem os desdobramentos que permearão a história. O atirador permanece desconhecido e passamos a temporada inteira levantando hipóteses sobre sua identidade, mesmo que no fundo saibamos que não há grandes possibilidades em torno do acontecimento em si.
Jack Sheridan está à espera dos gêmeos de sua antiga relação com Charmeine (Lauren Hammersley) e isso é, sem dúvida, um dos grandes desafios em seu relacionamento atual com Mel (Alexandra Breckenridge). A enfermeira está cada vez mais decidida a realizar o sonho de ser mãe, embora Jack não pareça nem um pouco afim de embarcar na ideia de ser pai de um terceiro bebê e é justamente isso que abalará o casal e ship mais amado dos fãs. Além disso, para Jack se fazer presente na vida dos gêmeos, ele precisará lutar bastante, já que Charmeine iniciou um novo relacionamento e seu atual noivo pode representar um risco à paternidade do antigo fuzileiro.
A nova temporada, como de costume, enfatiza uma série de tramas paralelas. A irmã de Jack, Bri (Zibby Allen), chega em Virgin River e parece carregar um segredo, ou até mesmo um trauma do qual foge. Ao longo dos episódios, vamos tentando descobrir o que é a partir das pequenas dicas espalhadas em cada diálogo e, como sempre, a resposta é a mais previsível possível.
Brady (Ben Hollingsworth) ensaia uma tentativa de se tornar uma pessoa melhor, mas o efeito bola de neve de seu envolvimento inicial com criminosos, é simplesmente inevitável. Preacher (Colin Lawrence) busca se adaptar a vida ao lado de Christopher (Chase Petriw), desde a partida de Paige (Lexa Doig), já o jovem casal Ricky (Grayson Maxwell Gurnsey) e Lizzie (Sarah Dugdale) tem todos aqueles problemas típicos de relacionamentos na juventude.
Não é de hoje que sabemos que Virgin River é aquela típica série morna e leve, que guarda para os atos finais seus breves momentos de tensão. Ainda que sem grandes plots e reviravoltas, a excelente química entre o casal de protagonistas somado ao carisma inerente de seus personagens nos prendem à trama de uma forma quase familiar. É como se nós fôssemos mais um morador daquela cidadezinha e, por isso, nos importamos com o que acontece. Mas devo ressaltar que alguns jargões podem estar ficando batidos e alguns deles estão exatamente associados ao casal Jack e Mel.
Nessa temporada, Mel está mais segura e confiante de si, se compararmos com a Mel da segunda temporada, que foi repleta de altos e baixos justificados pelos seus inúmeros traumas. Ainda assim, alguns comportamentos não são exatamente coerentes com isso. Um exemplo está no fato de se formos anotar o número de vezes que em que ela e Jack pedem desculpas um ao outro por suas ações, vamos nos cansar. Está mais do que na hora de retirar um pouco desses excessos dos diálogos que acabam, sobretudo, repetitivos e desgastantes.
Outro ponto que incomoda é que, por vezes, Jack é pintado como o homem perfeito. O romantismo passa um pouco da medida e cai no piegas. Os excessos às vezes são tão grandes que o mocinho da história quase perde a credibilidade. Por sorte, em sua segunda metade a série fica mais razoável, e é aí que se destacam os traços mais realistas e inseguros do personagem. Já sabemos que Jack é o sonho de consumo de muitas pessoas por aí, mas tem cenas que são quase dignas de contos da Disney e não era para tanto!
Hope fez muita falta, não dá pra negar. A presença física dela teria tornado o arco da doença de Doc (Tim Mathes) muito mais interessante, e, por isso, essa trama fica quase estagnada em segundo plano. O arco de Preacher e Paige fica novamente subutilizado em detrimento de outras subtramas bem mais morosas e que pouco agregam a história central. O próprio arco do atirador e de Calvin mereciam melhor abordagem e contextualização. A gente inicia a temporada sem muito lembrar dos detalhes e motivações para o crime e fica meio que por isso mesmo.
E se acha que terá todas as respostas ao fim da temporada, esqueça. O que surge, na verdade, são mais perguntas.
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