Com uma trama repleta de representatividade, "Eu Nunca" diverte e, ao mesmo tempo, conscientiza!
Os Estados Unidos são conhecidos por serem uma potência global e abrigam não apenas nativos, como pessoas originárias das mais diversas partes do mundo. É indiscutível o quanto as mais variadas culturas criam raízes nas terras do tio Sam, deixam suas marcas e contribuem para o crescimento desse país, ainda que sob a sombra da xenofobia de parte da população, que, pra quem desconhece o termo, é um sentimento de aversão a estrangeiros.
Visando quebrar as
barreiras do preconceito e estereótipos, a indústria do cinema e TV começa a
abrir caminho e dar representatividade ao diferente! E na crítica de hoje é o
sul da Ásia que ganha seu destaque.
Eu Nunca (Never Have I Ever)
é uma comédia dramática americana criada por Mindy Kaling e Lang Fisher.
Lançada na Netflix em maio de 2020, e com sua segunda temporada prestes a estrear, a
série é inspirada na história real da infância de Kaling, conhecida por
estrelar séries como The Office e Projeto Mindy, além de filmes
como Uma dobra no tempo e Oito mulheres e um segredo.
A história é centrada em Devi Vishwakumar (Maitreyi Ramakrishnan) uma adolescente de origem indiana que, além dos problemas típicos de sua idade, tem ainda que lidar com a morte precoce de seu pai, Mohan Vishwakumar (Sendhil Ramamurthy). O estresse pós-traumático a deixa em uma cadeira de rodas durante todo o seu primeiro ano do Ensino Médio.
Em seu segundo ano, tendo recuperado
os movimentos das pernas, Devi está determinada a fazer com que aquele seja o
ano dela e para isso recorre às amigas Fabiola (Lee Rodriguez) e Eleanor
(Ramona Young) com um plano que, segundo ela, será infalível para tornar aquele
trio nerd popular na escola. O plano basicamente é que ela e as amigas encontrem
um namorado o quanto antes. O que ela não esperava, no entanto, é que as amigas
já estivessem em relacionamentos. A adolescente entra em desespero quando
descobre e encontra em Paxton (Darren Barneta), o clássico estudante cobiçado
da escola, a chance de ter sua primeira vez. E é a partir daí que a trama se
desenrola e a confusão se inicia.
A série é simplesmente hilária! A novata Maitreyi Ramakrishnan dá um show de interpretação e é impossível não se envolver e torcer por essa adolescente que é extremamente realista. Entre erros e acertos, você facilmente consegue ter empatia pela jovem, que está longe de ser a protagonista perfeitinha e apresenta todos os excessos típicos de sua faixa etária.
Após a morte do pai, com quem Devi tinha uma relação
próxima, vemos o dia a dia conflituoso dela com sua mãe Nalini (Poorna
Jagannathan), uma mulher que se cobra demais, e consequentemente é exigente e
fria com sua filha. E se não for pra ter triângulo amoroso, nem me chame rs!
Além de Paxton, Devi ficará com seus sentimentos divididos em relação a Ben Gross (Jaren Lewison), um adolescente bem inconveniente e mimado, que é produto
do meio em que vive, no caso, uma família com posses, mas que pouco oferece no
quesito afetivo.
Além de tratar da iniciação sexual nessa faixa etária, temas
importantes como a sexualidade são abordados com sensibilidade, por meio da
personagem Fabiola, que é homossexual e terá dificuldade de abrir
isso para sua família. Eleanor também carrega uma história de abandono por parte
da sua mãe, que a marca. E temos uma linda mensagem de inclusão e conscientização sobre a síndrome
de Down.
Por meio da prima de Devi, Kamala (Richa Morvani) vemos os casamentos
arranjados, um traço forte da cultura indiana e as consequências e exclusão por
parte da comunidade daqueles que optam por seguirem suas próprias convicções. A
modernidade pode custar caro, em especial, porque vemos que pra alguns o
respeito de seus familiares e aceitação é algo que de fato importa.
Não esperem uma narrativa muito fora da caixa. A fórmula aqui é muito semelhante a de tramas como Atypical e Sex Education. Vale destacar que aqui talvez falte um pouco de aprofundamento nas pautas, que essas outras duas séries conseguiram explorar de uma forma mais incisiva. Pode ser que a proposta de Eu nunca seja ser despretensiosa e mais sutil? Sim. Mas talvez esse algo mais seja o que falta para elevar o nível e tornar a série mais marcante no catálogo.
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