Mesmo com seus altos e baixos, a minissérie O Inocente (Netflix,2021) prende o telespectador com sua trama investigativa envolvente e reviravoltas inesperadas. 

Após sucessos como La Casa de Papel e Elite chegarem ao catálogo da Netflix, chega a vez de mais uma produção espanhola conquistar sua parcela do público. O Inocente, minissérie de 8 episódios dirigida por Oriol Paulo, conquista por seus arcos intrigantes e, sobretudo, pelo suspense bem construído

Na trama, baseada no romance homônimo de Harlan Coben, Mateo Vidal (Mario Casas) acaba por causar uma morte acidental ainda na juventude e que geram consequências inimagináveis na sua vida. À primeira vista, esse pequeno resumo pode levar os desavisados a tacharem o show  abruptamente como desinteressante e/ou mesmo com uma trama repetitiva. Ledo engano (meu e seu!) 
Assim, fazer a análise da minissérie sem entrar no campo dos spoilers é uma tarefa difícil - afinal, a sinopse superficial é só a ponta do (colossal) iceberg de intrigas da produção. Mas, não se preocupe, seguiremos firmes aos moldes tradicionais do site: esta crítica não contém spoilers.  

Em primeiro lugar, destaco o que é o ponto chave da trama: a tridimensionalidade de seus personagens. Na medida que a trama avança, não há como reduzir a personalidade das figuras ao simples bom ou mau. O roteiro brinca muito com essa polarização, levando seus personagens ao extremo dos dois lados e nos fazendo questionar o porquê de estarmos torcendo (ou odiando) tais indivíduos. Portanto, qual é o limite do que é aceitável dentro dos valores éticos de cada pessoa? 


Este viés é alcançado graças ao emaranhado de tramas que se desenvolvem a partir do segundo episódio. Neste sentido, nosso olhar sobre as ações destes personagens muda muito até o desfecho do drama espanhol. Como já mencionado, o arco de Mateo é só uma gota diante do que é apresentado na sequência. A disparidade entre o 1º e 2º episódio é tão grande que, por um momento, cheguei a pensar que havia trocado de série sem perceber. E, de fato, quanto mais descobrimos, mais de lado parecemos deixar o pivô de toda a confusão. É quase como se Mat se tornasse secundário em sua própria história.

A cada episódio, mais imersos ficamos na trajetória de cada personagem e envolvidos pela surpreendente conexão com o eixo principal da série: a morte acidental que levou Mat à prisão. Nada é por acaso no show, mesmo que inicialmente soe deste modo. Por exemplo, quem conseguiria imaginar o quão envolvida estaria a freira vivida por Juana Acosta? Por que dedicar um episódio inteiro para a policial de Alexandra Jiménez investigar um possível suicídio? Existe um motivo para o tempo de tela considerável dado ao casal em luto?


Diante de tantas tramas, aparentemente, paralelas, a minissérie tinha tudo para se perder no seu próprio enredo. Felizmente, mesmo com oscilações na qualidade, não é o que acontece, pois o suspense e o mistério são muito bem trabalhados. Inicialmente, descobrir o que torna aquele tal personagem tão importante para a história é o que te motiva a maratonar a série. Quando você vê, já está terminando as quase 8 horas de conteúdo, mesmo que algumas coisas não te convençam por inteiro.

No entanto, de um ponto de vista crítico, nem tudo é tão bem trabalhado. Por vezes, senti uma latente banalização da violência por conta de takes prolongados de conteúdo agressivo e que pouco agregavam ao desenrolar da trama. São cenas postas com intuito  único e exclusivo de chocar o telespectador e isso certamente não era necessário. 

Além disso, El Inocente (no origina) possui reviravoltas que vão dividir opiniões, principalmente em seu final. A sensação que ficou é de que, na busca insaciável de surpreender e manter o ritmo instigante do começo, a equipe entregou conclusões que soam forçadas ou irreais. Coerentes com o que foi apresentado, porém inegavelmente genéricas. Mas isso não chega a prejudicar a experiência. Acredite: existem muitos bons plot twists ao longo do show da Netflix. 


Um outro detalhe digno de nota é a condução das personagens femininas. Olivia Costa (Aura Garrido), Emma, Kimmy e Lorena são facilmente relacionáveis por conta de suas jornadas de luta e resiliência e que abordam temas como imigração, prostituição, abandono e violência. 

Em suma, a minissérie não traz nada de realmente inovador, mas certamente conquista por suas escolhas inusitadas e a maneira como entrelaça seus arcos e temas de maneira orgânica. É uma produção digna de maratona e que com certeza entretém seu público. 

Nota: 7,5/10 

Post a Comment

Postagem Anterior Próxima Postagem