Anthony Hopkins entrega uma de suas melhores atuações da carreira, em um doloroso e assustador retrato sobre um homem que começa a perder suas memórias.
Anthony (Anthony Hopkins) tem 80 anos. Ele mora sozinho em Londres e recusa as enfermeiras que sua filha Anne (Olivia Colman) tenta impor a ele. No entanto, a ajuda está se tornando mais urgente, pois ela decidiu se mudar para Paris e ele está cada vez pior. Enquanto ele tenta entender suas mudanças, começa a duvidar de seus entes queridos, de sua própria mente e da própria realidade.
O filme é co-escrito e dirigido por pelo francês Florian Zeller, que faz a sua estreia como diretor neste filme, baseado em uma peça para o teatro lançada em 2012 escrita e criada por Zeller, que vendeu os direitos de adaptação para os cinemas para a Sony Pictures. O filme chamou a atenção de todos após ser muito elogiado durante o Festival de Sundance em 2020, que deu destaque a brilhante atuação do ator Anthony Hopkins (O Silêncio dos Inocentes, Thor Ragnarok) interpretando um homem idoso perdendo suas memórias e a atriz Olivia Colman (A Favorita, The Crown) como sua amorosa e desesperada filha.
A primeira coisa a se destacar nesse filme é a excelente atuação de Hopkins que gerou diversas indicações nas premiações e até mesmo uma indicação ao Oscar de Melhor ator deste ano. O ator consegue entregar um senhor complicado mas que fica confuso com todas as mudanças e começa a se perder na realidade e nas suas memórias, emocionando o espectador e retratando muito bem um homem com alzheimer/demência (o longa não chega a especificar qual a doença de Anthony). Já Colman que também recebeu indicações, merece todo o destaque que está tendo por sua interpretação de uma filha doce que está fazendo de tudo para ajudar o pai.
Após os primeiros 20 minutos, o filme tem uma “reviravolta” a lá M. Night Shyamalan (O Sexto Sentido) que pega o espectador completamente de surpresa, mostrando o quão assustador é a situação em que o protagonista se encontra. A utilização dos personagens do ator Mark Gatiss (Sherlock, Game of Thrones) e da atriz Olivia Williams (X-Men, Rushmore) trazem essa reviravolta de forma orgânica e que deixa o espectador ainda mais confuso (de maneira positiva). Gatiss traz um sarcasmo e ironia ao personagem que somados a gentileza de Willians fazem com que suas cenas no filme sejam completamente interessantes e prendem o espectador.
Já os atores Rufus Sewell (Coração de Cavaleiro, Judy) e Imogen Poots (Eu Mato Gigantes, V de Vingança) tem personagens interessantes que embora trazem momentos chocantes e temáticas boas a história, tem um tempo de tela exagerado. O personagem de Rufus faz o papel do namorado/marido que não suporta a relação de Anne com o pai, odiando Anthony e o confrontando diversas vezes, e aconselhando a personagem a colocar o pai em um asilo ou casa de cuidado para idosos. O diretor opta por fazer diversas cenas assim, sendo que o espectador já entendeu o objetivo do personagem, tornando algumas cenas inchadas e desnecessárias.
O roteiro de Zeller e Christopher Hampton (Desejo e Reparação, Um Método Perigoso) são sagazes e deixam bem evidente que o filme é baseado em uma peça teatral. A montagem do filme somado com a composição dos cenários e a narrativa visual são bem interessantes, brincando com o espectador e nos colocando na visão do protagonista, trocando objetos e móveis de lugar constantemente.
A cena final do filme é um soco no estômago. Ali vemos o ápice da atuação de Hopkins no filme, em uma sequência emocionante que destrói o espectador por completo. Ver o personagem naquele estado desabando sobre a personagem de Williams é tocante, além de abrir uma ótima discussão sobre o abandono de pessoas idosas que possuem esses tipos de doença.
“Meu Pai” acaba sendo um forte, pesado e emocionante retrato de um homem que perto do fim da vida, se vê em uma assustadora posição em que é traído pela própria mente, trazendo belíssimas atuações e reflexões sobre essas doenças degenerativas e o abandono e cuidado dessas pessoas.
Nota: 9,5.
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