Dylan O'Brien estrela uma divertida jornada do herói em um mundo recheado de perigos.

'Amor e Monstros' é o que se pode chamar de um clichê bem executado no cinema hollywoodiano, a aventura dirigida por Michael Matthews não inova em muita coisa, mas é competente em entreter o público. A premissa da trama concentra-se nos esforços do pacato Joel Dawson (Dylan O'Brien) para chegar na colônia de sobreviventes onde se encontra sua ex-namorada Aimee (Jessica Henwick), porém, para realizar tal feito, ele deverá atravessar por uma América devastada por monstros insectoides gigantes.

O roteiro escrito por Brian Duffield e Matthew Robinson criou uma história simples, mas bem contada tanto em construção de mundo quanto em desenvolvimento de personagens. Joel é o típico herói em construção que deve superar seus traumas para alcançar a grandeza interna e enfim, poder ficar em paz. Apesar de não ser o personagem mais original de todos os tempos, não se pode negar que ele é um bom protagonista, pois é uma figura de fácil identificação. Na juventude, a maior parte das pessoas é envolta por um sentimento de impotência ou fracasso quando a vida não segue os planos designados e Joel exemplifica esse sentimento de forma radical por ser um jovem crescendo meio a um apocalipse que destruiu tudo o que conhecia.

Durante a narrativa, ele é os olhos do público para esse mundo caótico onde insetos mutantes destruíram 95% da vida humana e através dos seus pensamentos, temos todas as informações necessárias para entender o contexto da trama. O roteiro usa muito a própria insegurança do protagonista para dar informações que o público necessita, sem apelar para diálogos bestas. A atuação de Dylan O'Brien não é muito diferente dos trabalhos que o ator fez em 'Teen Wolf' ou 'Maze Runner', mas cumpre bem seu papel de ser uma figura carismática para quem o público torce.

Como em toda jornada do herói, é claro que ele ganha um ajudante para auxiliar nos seus objetivos, como também uma dupla de mentores que ensinam tudo o que ele precisa saber para sobreviver. O texto evitou colocar um companheiro humano para ajudá-lo na viagem e optou por um cachorro, algo pouco comum no gênero. A introdução do animal serve a dois propósitos na história, o primeiro é estabelecer um senso de perigo, pois cachorros agem de forma imprevisível, o que vai causar problemas em certa altura da viagem. O segundo motivo foi para evitar uma dispersão de foco, mantendo a pessoa de Joel em foco, explicitando todo seu árduo esforço para superar seus traumas e criar coragem.

Um detalhe que diferencia esse filme de outros do mesmo tipo é no modo como a história conscientemente abraça os clichês, mas sempre subvertendo expectativas. Cada personagem na história tem suas próprias motivações, eles não ficam esperando que Joel faça sua entrada heroica para continuar com suas vidas. O maior exemplo disso é a própria Aimee que mudou muito desde última vez que o viu e isso se reflete na relação deles. Apesar do pouco tempo de tela, Jessica Henwick faz um bom trabalho em demonstrar o cansaço emocional da personagem, como também a vulnerabilidade. 

Também devo elogiar o bloco de Clyde (Michael Rooker) e Minnow (Ariana Greenblat) que são os mentores de Joel em sua jornada inicial. Ambos os personagens são dotados de um cinismo engraçado que funciona como um olhar crítico do próprio público sobre as decisões estúpidas do protagonista. E, como mencionei anteriormente, eles não estão lá apenas para auxiliá-lo e depois cair fora (ainda que isso ocorra), mas também possuem seus próprios dilemas e são uma forma do texto contrastar a ignorância do jovem sobre a vida na superfície com a experiência de duas pessoas que vivem lá e enfrentam seus perigos diariamente.

O único momento em que o filme perde força é no terceiro ato, a batalha final na praia soa deslocada do tom intimista dos primeiros atos. A apresentação de novos antagonistas é boba e trai a boa construção de personagens que o texto fizera até ali, pois, essa luta é utilizada como uma catapulta para jogar Joel de vez como um herói clássico com direito ao seu próprio deus ex-machina. Como ação não chega a ser ruim, diverte sim, mas é deveras apressado.

Falando em ação, devo elogiar o trabalho do diretor Michael Mathews por conseguir navegar entre diferentes tons durante a história sem perder a coerência da obra. As transições entre as cenas românticas, de comédia e horror são bem executadas com cada uma servindo a um propósito claro na construção do arco do personagem. As cenas de ação são bem trabalhadas sempre tentando deixar o público ansioso com uma câmera sugestiva em várias direções de onde o perigo pode surgir.

O design das criaturas é muito criativo, mantendo um pé no realismo e abraçando o fantástico em simultâneo. Aliás, toda a criação de mundo é bem explorada, o ambiente das cenas é sempre lotado de detalhes sobre o que pode estar à espreita, mas sempre com espaço para surpresa. Uma decepção reside na trilha sonora, não há um tema que realce as cenas de modo marcante, a música é bem genérica. O mesmo pode ser dito sobre a fotografia, ainda que existam momentos inspirados como na cena das água-vivas.

'Amor e Monstros' é a típica jornada do herói, mas diverte e encanta com seu mundo fantástico.

Nota: 7,5

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