Novo episódio aprofunda relação dos protagonistas e abre caminho para esperados retornos.
Apesar de aparentar ser uma pessoa carismática, o personagem possui um ar bem dissimulado, nunca soando totalmente honesto em suas falas. A atuação de Wyatt Russell tenta emular o charme que o antigo Steve Rogers (Chris Evans) possuía, mas a aura dissimulada envolta nele faz o espectador desconfiar de suas "boas intenções". Basta observar como a diretora Kari Skorgland enquadra a câmera quando ele está em cena, o enquadramento é sempre do torso para cima ou focando no rosto, passando a sensação de que Walker está sob muita pressão.
Uma boa sacada do roteiro é enfatizar o quanto as pessoas pedem por John Walker, mas não estão interessadas na verdadeira personalidade dele e sim nos valores que ele deve personificar como Capitão América. Isso deixa o personagem numa obsessão para provar para si mesmo e para os demais que está à altura do legado. Na outra vertente do episódio, vemos Sam Wilson (Anthony Mackie) e Bucky Barnes (Sebastian Stan) retomarem a parceria no estilo buddy cop com muitas tiradas cômicas e claro muitos atritos.
Ambos os heróis possuem seus dilemas pessoais e cada um busca ignorá-los à sua maneira. Sam está obviamente chateado com a história do novo Capitão América, ainda que afirme o contrário enquanto Bucky deseja insistentemente saber o porquê ele desistiu do escudo. Ao longo do episódio, o roteiro vai dando pequenos indícios dos motivos da renúncia, ampliando também a temática sobre o racismo apresentada no capítulo anterior.
Lembram do que falei sobre o homem branco representar os valores íntegros da cultura estadunidense, pois bem, aqui vemos como o governo trata os heróis negros que servem o país. Somos apresentados à Isaiah (Carl Lumbly), um soldado da Guerra da Coreia que recebeu o soro do super-soldado, mas que diferente de Steve Rogers, não recebeu o tratamento heróico, apenas dor e sofrimento. Um pouco depois, vemos Sam e Bucky serem abordados pela polícia por estarem discutindo na rua, mas apenas o Falcão é tratado como uma ameaça, deixando bem explícita a diferença de tratamento baseada na cor da pele.
Todo essa construção da temática racial norte-americana não é gratuita, a série está dando dicas do porquê Sam Wilson não aceitou o manto de Capitão América, o ápice disso deve ser abordado em futuros episódios. Falando em abordagens, não gostei do modo como o dilema do Soldado Invernal foi trabalhado pela trama, o personagem entra no conflito de forma trivial e toda a resolução apresentada na cena da terapia é deveras infantil e preguiçosa. Devo concordar com um diálogo dessa cena, a terapeuta não é nada profissional, busca resultados com técnicas constrangedoras que no fim não dizem muito.
Outro ponto fraco está nos vilões da Apátridas, o núcleo deles nesse episódio serve apenas para encher linguiça, já que nada de relevante é dito sobre o movimento que já não tivéssemos visto no episódio anterior. O roteiro até tenta dar mais contexto sobre as missões deles e a causa, mas soa deslocado, pois o foco desse episódio era estabelecer o inevitável conflito entre John Walker com Falcão e Soldado Invernal.
Pelo menos, as cenas de ação são muito legais, lembrando momentos de 'Vingadores: Era de Ultron' como na cena com o caminhão na Coréia do Sul. A diretora sabe mover a câmera para capturar vários ângulos da ação, permitindo que o público veja tudo o que acontece sem muitos cortes. Os efeitos visuais cumprem bem o seu papel de auxiliar na ação e são pouco perceptíveis nas cenas, ainda que os momentos de adrenalina sejam bem curtos.
Por mais que haja deslizes em certos blocos, o capítulo é tematicamente coeso e abre muitas possiblidades interessantes para o futuro da Marvel. O inevitável retorno do Zemo (Daniel Brühl) é antecipado na cena final e deve trazer novos problemas para a dupla de heróis, já que desgraças nunca vêm sozinhas na vida de combate ao crime.
'Falcão e o Soldado Invernal' acertava novamente em seu segundo episódio e mostra um lado mais próximo da realidade do que fora mostrado antes na Marvel.
Nota: 7,0
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