O gênero de super-heróis é provavelmente o mais revisionista em toda ficção, após décadas de reinvenções radicais, se tornou difícil de se criar algo original ainda dentro desse arquétipo. Uma solução elegante é a fusão de gêneros, seja misturar os super-heróis com um pós-apocalipse ou um mistério noir, The Astounding Wolf-Man de Robert Kirkman cria uma fusão entre o super-herói e a história do lobisomem.

Seguindo o arquétipo comum, um homem ganha superpoderes após um incidente e decide usar suas novas habilidades para salvar pessoas e combater o crime. O twist da história está que esse homem, Gary Hampton, não simplesmente ganhou superpoderes, ele foi mordido por um lobisomem e agora com a mentoria do vampiro Zechariah aprende a usar seus novos poderes no combate ao crime enquanto tem que equilibrar sua nova identidade com a vida familiar junto de sua esposa e filha.


Todo o charme do quadrinho vem de sua proposta de fundir esses dois gêneros dentro das sensibilidades narrativas de Robert Kirkman. Situado no mesmo universo de Invincible, isso se faz visível pelo apreço mostrado a tropes clássicas de super-heróis ao mesmo tempo que completamente ignora convenções do gênero a fim de criar uma história mais envolvente, e o mesmo é feito com os monstros que enquanto ainda são arquétipos em sua forma mais clássica (mais semelhantes a literatura antiga do que filmes modernos), Kirkman não deixa de fazer suas alterações reinventar conceitos para funcionarem melhor nessa história.

Como outras obras do seu autor, The Astounding Wolf-Man não se mantém preso a um status quo inflexível, suas 25 edições são dividas em 4 volumes que terminam ou abrem com uma mudança bem relevante na vida de Gary Hampton. Especificamente, o final do primeiro volume altera totalmente o curso que a obra tomava fazendo-o se tornar praticamente uma história diferente. Entretanto, o quadrinho se mantém consistente no tom e qualidade em meio a todas as mudanças no status quo, nunca se distanciando do que fez seu arco inicial funcionar.


Os personagens possuem personalidades agradáveis e críveis, Gary Hampton é introduzido como alguém fácil de se gostar e de se identificar, enquanto seu mentor Zechariah se mantém misterioso ao mesmo tempo que passa a imagem de um sujeito acessível. Certos leitores podem ter um problema com Chloe, a filha do protagonista, porém isso deve se dar mais ao fato dela ser escrita como uma adolescente crível com reações compreensíveis do que com ela ser realmente má escrita. O grande destaque vai para interações de Gary com outros super-heróis e supervilões cujo dinamismo dá uma credibilidade bem-vinda à proposta da obra de fundir gêneros.

A arte de Jason Howard pode parecer muito cartunesca e pouco madura, porém isso funciona dentro da obra pois o gore presente nela é muito mais impactante nesse traço remanescente de algo como um saturday-morning-cartoon. Ao longo das 25 podemos ver a evolução de Howard em como ele desenha os personagens e como sua técnica se aprimora ao longo do título sem nunca se destoar de uma edição para outra.


O Wolf-Man chegou a voltar em aparições nas HQs Guarding the Globe e Invincible Universe mas a edição 25 de seu título solo fornece um final digno ao personagem que tem muito do que torna Robert Kirkman popular e é uma porta de entrada bastante acessível ao universo de Invincible.

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