Virgin River termina muito bem, mas aumenta sua dose de marasmo no decorrer da nova temporada.

A segunda temporada de Virgin River, drama romântico baseado na série de livros de Robyn Carr, se encontra disponível no catálogo da Netflix, desde o dia 27 de novembro, e está no top dez brasileiro desta semana. Lógico que corri pra assistir e deixarei aqui meu review sobre os novos episódios desta série que rouba o coração dos desavisados.

A primeira temporada, caso não se recorde, se encerra com a enfermeira e parteira Mel Monroe (Alexandra Breckenridge) disposta a abandonar a cidade e assim deixar o caminho livre para Charmaine (Lauren Hammersley) retomar seu relacionamento com Jack (Martin Henderson), visto que a cabeleireira está grávida de um filho dele. De alguma forma, Mel sente que sua presença pode se tornar um obstáculo para a paternidade de Jack e na constituição dessa nova família. Vale lembrar, que isso tudo foi intensificado pela forma como Mel recebeu essa notícia, já que não foi por Jack, mas sim através de Hope (Annette O’Toole) e seu incansável jeito de se meter na vida dos outros.

Outro momento intenso da primeira temporada envolveu Preacher (Colin Lawrence), que no último episódio chega à casa de Paige (Lexa Doig) e encontra sangue no chão, e nem sinal dela e de seu filho. Temos ainda Brady (Ben Hollingsworth) que, por sua vez, está cada vez mais próximo do traficante Calvin (David Cubitt) e parece estar disposto a sair dos trilhos em troca de um crescimento “profissional” rápido.

A partir daqui a crítica contém spoilers, por isso te convido a retornar assim que terminar de assistir a segunda temporada!

Logo no primeiro episódio da segunda temporada, já temos respostas para algumas lacunas do season finale. Mel realmente havia deixado Virgin River e ficado fora por algumas semanas, sem ao menos entrar em contato com Jack. Assim que retorna, ela percebe o quanto isso o magoou e leva tempo até que ela reconquiste a confiança dele e quebre o gelo entre os dois. O arco dos dois tem uma boa evolução. Ao longo da temporada, assistimos Mel lidando com o luto pela perda de seu marido e filha. Um dos episódios mais marcantes é justamente quando ela completa um ano da perda de Mark e, por isso, realiza uma espécie de memorial intimista em que fica a linda mensagem de que não existe uma agenda para superar uma perda. Cada pessoa tem seu tempo e isso deve ser respeitado. Jack sabe respeitar esse tempo, o que faz Mel se sentir confiante o bastante para enfim expor seus sentimentos para ele. Finalmente nesta temporada temos a primeira noite de amor dos dois e ouvimos pela primeira vez eles dizendo “Eu te amo” um para o outro.

Algumas situações foram extremamente entediantes na série. Doc recorre a ajuda de Mel para acompanhar a gravidez de risco de Charmaine e essa parte da história tem um desenrolar bem moroso. As brigas são sempre as mesmas e a possessividade de Charmaine exaure o telespectador, por ser repetida inúmeras vezes ao longo da história. Abusando dos clichês novelescos, Charmaine ainda por cima está grávida de gêmeos! Eu ouso cantar a pedra de que ela acabará falecendo no parto, deixando o caminho livre pra Mel inclusive no eixo da maternidade (isso não é spoiler, mas sim: fontes da minha cabeça rs).

Os conflitos interiores de Jack ficam mais intensos, em especial nos episódios onde ele revê seus amigos que são também ex-fuzileiros. No entanto, pouco de suas questões mais íntimas se resolve e novamente ele pouco se abre, ou seja, a trama acaba por girar em círculos nesse aspecto.

O arco de Preacher é talvez um dos mais interessantes nesta nova temporada. No início, nos deparamos com o retorno de Wess, o marido de quem Paige foge por ser violento com ela e seu filho. Em legítima defesa, Paige derruba-o e ele cai pelas escadas e acaba morrendo. Obviamente a série segue mais um clichê e Preache prontamente assume a responsabilidade de desaparecer com o corpo, pois eles imaginam que Paige seria presa caso chamassem as autoridades (achismo exagerado na minha opinião, já que ela exibia no próprio corpo marcas da violência do marido). Infelizmente, Paige e o filho têm que abandonar a cidade, antes que ela e Preache possam se envolver de fato amorosamente, e o sócio do Jack’s passa a lidar diariamente com o medo de ser descoberto pela polícia. Surpreendentemente, sua confidente passa a ser a pessoa mais improvável: a fofoqueira mor da pequena cidade, Connie (Nicola Cavendish). Não bastasse os gêmeos de Jack, aqui surge o gêmeo de Wess, que também é policial, investigando o sumiço do irmão! O roteiro deve ter sido inspirado em alguma trama mexicana, só pode!

Vale salientar que uma nova trama paralela se desenvolve, e ela é a mais água com açúcar possível. A sobrinha de Connie, Lizzie (Sarah Dugdale), chega da cidade grande no auge de seus 19 anos para morar com sua tia e se envolve com Ricky (Grayson Maxwell Gurnsey) funcionário de Jack, aparentemente único jovem do local (ironia rs). O enredo é bem morno e mostra basicamente a garota desviando o menino ingênuo do “bom caminho”, ou seja, não agrega em nada às histórias principais, basicamente ocupando tempo de tela dos episódios.

O arco de Doc e Hope é o responsável por garantir um pouco do entretenimento da temporada. Os dois reataram, contudo Hope acredita que eles devem manter isso às escondidas por um tempo e, para isso, ela incentiva Doc a sair com outra mulher para que as pessoas acreditem que eles estão se divorciando de fato. Inicialmente é bem divertido, mas chega uma hora que isso se repete demais e a infantilidade de Hope se torna desgastante. Apesar de cansativo, esse ainda é o arco que tem um dos melhores fechamentos e momento "uau" da temporada. Constatamos que Doc está aparentemente doente no episódio final. Pistas foram deixadas no caminho, no entanto, só capta quem assistir com atenção. No episódio da contaminação da comida no bar do Jack, por exemplo, percebemos um Doc extremamente irritadiço e se recusando a preencher as fichas dos pacientes. Isso pode ter relação direta com a descoberta do seu diagnóstico, ou quem sabe até com os sintomas da doença que apresenta, embora ainda desconheçamos.


O traficante Calvin está cada vez mais hostil e quer de todas as formas uma ligação direta com Virgin River. Um de seus funcionários logo no início da temporada aparece no consultório e ameaça Mel com uma faca. Claro que Jack prontamente a salva. Entretanto, isso desencadeia um desejo de justiça em Jack que não parará enquanto não encontrar uma forma de achar evidências suficientes para que a polícia possa prender Calvin. É claro que o traficante não fica nada satisfeito com o envolvimento insistente de Jack e não faltarão ameaças, uma delas a contaminação dos clientes do ex-fuzileiro. O gran finale da temporada é Mel encontrando Jack baleado atrás do balcão de seu bar. Tudo leva a crer que o disparo contra o abdômen do nosso protagonista possa ter relação com Calvin. Eu apostaria nisso já que a série segue fielmente cada clichê possível.

Virgin River, portanto, continua tendo a irresistibilidade de seus protagonistas, cenários incríveis e aquele clima de tranquilidade. Porém considero essa temporada inferior a primeira, por insistir em certos conflitos que acentuam sua morosidade e por segurar demais o desenrolar de certas situações. Torço por uma terceira temporada, mas a série precisa urgentemente acertar suas arestas antes que caia na guilhotina da Netflix.


Nota: 6,5

 

 

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