Amor em Little Italy é mais um romance que emplaca o top 10 da Netflix no Brasil. Mas por mérito ou por falta de novidades no catálogo? 

Amor em Little Italy (Little Italy) é uma comédia romântica de 2018 dirigida por Donald Petrie, conhecido pela direção do sucesso Miss Simpatia, e que no dia 27 de dezembro deste ano foi adicionada ao catálogo da Netflix e já ocupa a sexta posição dos mais assistidos no streaming no Brasil, na data de publicação desta crítica.

O longa conta a história de Nicole “Nikki” (Emma Roberts) e Leo (Hayden Christensen), amigos de infância inseparáveis que crescem juntos em um bairro de Toronto chamado Little Italy, onde suas famílias dividem os negócios em uma pizzaria. Enquanto a família de Nikki é responsável pelo fantástico molho, a família de Leo entrega uma massa crocante e incomparável, ou seja, essa parceria rende a melhor pizza da redondeza. Já adulta, Nikki se muda para Londres a fim de aprimorar seus conhecimentos culinários, mas, sobretudo, pra se afastar dos conflitos, uma vez que após um concurso local, os patriarcas das famílias, Sali (Adam Ferrara) e Vince (Gary Basaraba) tiveram uma briga séria e romperam os laços e os negócios de vez.

Em Londres, Nikki se destaca e passa a concorrer por uma vaga no restaurante novo de sua chef. Para isso se concretizar, além de precisar montar o cardápio ideal, ela também precisará regularizar seu visto para a modalidade de trabalho. Por essa razão, ela retorna a sua cidade natal e de cara, encontra com Leo, o que imediatamente reaviva seus sentimentos pelo rapaz e, claro, a competitividade de sempre.

O filme se desenrola em meio à atmosfera de rivalidade entre as famílias, com aquela essência italiana que corre pelas veias dos personagens e dá um toque legal ao enredo, rendendo algumas situações divertidas e risadas pontuais. A grande bola fora do filme é que os personagens interessantes e divertidos definitivamente não são os protagonistas, mas sim o elenco de apoio.

Emma Roberts reprisa a mocinha de sempre, já que os roteiros também em nada ajudam, mudando basicamente apenas a cor do cabelo. Não me lembro de ter presenciado alguma atuação marcante de Hayden Christensen. Mesmo quando ele interpretava o papel mais importante de sua carreira, como Anakin Skywalker da saga Star Wars, ele já não convencia. Na comédia romântica, ele novamente se sai mal por ser inexpressivo e pouco carismático, pra não dizer desinteressante. Culpa do roteiro? Não somente. Ali falta talento também.

Acaba que o grande casal da trama não é o dos protagonistas. A surra de fofura está no relacionamento entre os avós das famílias. Franca (Andrea Martin) e Carlo (Danny Aiello) são responsáveis pelo romance em sua forma mais pura e pelas reflexões da vez. Às escondidas, devido a briga dos filhos, eles se encontram e dão aula sobre o amor verdadeiro. Enquanto isso, Nikki e Leo são aquele casal que não faz o telespectador rir, ou torcer por eles, nada mais que insossos.

Vale destacar aqui as breves intervenções de Andrew Phung, intérprete de Luigi, amigo de Leo, Vas Saranga, que deu vida a Jogi, o funcionário da pizzaria, e Cristina Rosato, que interpretou Gina, amiga de Nikki. Mesmo com pouco tempo de tela, os três carregam a essência da comédia consigo, mas infelizmente não são suficientes pra salvar o filme da apatia. O bairro também é um deleite, ainda que as externas tenham sido pouco exploradas, dá pra sentir uma parte da Itália na essência daquele local.

O romance pende para o clichê machista de sempre, onde a mocinha deve sempre escolher entre fincar raízes onde está o seu amor e sua família ou escolher por dar seguimento a sua carreira bem sucedida. Fico pensando quando os romances vão colocar os homens nesse tipo de situação deprimente de escolha. Helloooo indústria, por que as escolhas difíceis sempre cabem às mulheres? 

Faltou para Nikki ouvir o sábio conselho da Lady Gaga: “Algumas mulheres optam por seguir os homens e outras os sonhos delas. Se você está querendo saber qual caminho escolher, lembre-se que sua carreira nunca irá acordar e dizer que não te ama mais”. Mesmo que no final tenha dado tudo certo como em quase todas comédias românticas, sabemos que na vida real na maioria das vezes não é assim, portanto, passou da hora dos filmes reproduzirem mulheres um pouco mais decididas e independentes, bem como homens que possam sim mudar um pouco seus planos, em vez de virem com frases prontas do tipo: "Não fique por mim, mas sim fique comigo". 

Amor em Little Italy só está, portanto, no top 10 por falta de opções no catálogo da Netflix, que capricha nas séries, mas nem tanto na escolha de filmes.


Nota: 5,0

Post a Comment

Postagem Anterior Próxima Postagem