Apesar da fórmula batida, "Virgin River" consegue envolver e cativar.
Tem dias que são tão estressantes, mas TÃO estressantes, que buscamos alternativas mais leves de conteúdo, com o único objetivo de relaxar. Nada que exija raciocínio demais, apenas tranquilidade e calmaria. Algo doce e que deixe o coração quentinho. E é aí que entra Virgin River.
Virgin River é uma série de romance dramático, que entrou no catálogo da Netflix em dezembro de 2019. Baseada nos romances escritos por Robyn Carr e desenvolvida por Sue Tenney, amanhã, dia 27 de novembro, terá sua segunda temporada lançada. Portanto, se quiser saber se vale a pena ou não acompanhar essa história, siga a resenha.
O enredo acompanha a enfermeira Melinda “Mel” Monroe (Alexandra Breckenridge, American Horror Story) que deixa sua cidade, Los Angeles, e se muda para uma cidadezinha remota chamada Virgin River. A princípio, ninguém entende o que leva uma enfermeira bem sucedida a abandonar o emprego em um dos melhores hospitais do estado da Califórnia e mudar toda sua vida para buscar uma experiência completamente nova e incerta. Seria uma fuga ou um recomeço? Esse inclusive é um dos fios condutores da trama que está completamente associado ao desenrolar do passado de Mel que assistimos ao longo dos episódios na forma de flashbacks.
Assim que chega à cidade, a fim de preencher a vaga de enfermeira no único consultório do lugarejo, Mel percebe que a cabana onde se hospedaria, segundo seu contrato de trabalho, é bem diferente do combinado e que glamour não é algo rotineiro naquele local. Não demora até ela conhecer e se familiarizar com a prefeita Hope (Annette O’Toole, Smallville), responsável por sua contratação e estada na cidade.
De personalidade forte e coração grande, a prefeita é literalmente um faz tudo que quer se envolver na vida de todos, achando que cabe a ela solucionar cada um dos problemas da vida dos habitantes de Virgin River, exceto seus próprios problemas. Sua constante troca de farpas com o médico da cidade, Dr. Vernon Mullins “Doc” (Tim Matheson) é um dos pontos fortes da série. O médico sisudo e cabeça dura não tornará fácil a adaptação de Mel, uma vez que insiste em se autoafirmar frisando o tempo todo que, apesar da idade, ele se vê capaz de trabalhar sozinho e independentemente da ajuda da recém-chegada. O machismo é algo pungente em cidades pequenas, no entanto Mel não se abalará.
Ela está disposta a se adaptar a todo custo e fugir das sombras do passado e encontra em Jack (Martin Henderson, Greys Anatomy) um porto seguro. – uma pausa pra respirar e enaltecer Jack. Queeeee personagem senhoras e senhores – Jack é proprietário de um dos únicos “points” da cidade. Um bar que funciona meio que como tudo, serve refeições, aparentemente nunca fecha, tem aquecedor, gerador e, claro, serve para afogar as mágoas. Assim como Mel, ele também tem dificuldades em lidar com o passado. Ex-veterano de guerra, ele convive com traumas decorrentes da época em que fazia parte das forças armadas americanas e encontra na bebida a sua válvula de escape. A faísca entre os dois não demora a surgir e a química é perceptível e, sem dúvida, uma das coisas mais fofas que você vai ver, sendo a grande mola propulsora da série.
Como eu disse logo no início, não espere nada complicado. Aqui o roteiro não ousa, sendo bastante clichê. Com dois ou três episódios você pode rascunhar o que acontecerá dali pra frente sem errar em suas previsões. Ainda assim, a magia do romance água com açúcar existe em razão de personagens carismáticos somados a uma atmosfera leve de narrativas bem típicas de contextos interioranos.
Você vai rir com as fofocas que apenas cidades pequenas têm, vai se emocionar com os casos médicos abordados e atendidos por Mel e Doc, bem como vai torcer e vibrar pela formação desse “casalzão”. Óbvio que os jargões novelescos são utilizados de todas as formas possíveis, então assista apenas se for adepto de um bom dramalhão.
Alexandra Breckenridge encarna com exatidão sua personagem. Você se sensibiliza pelo histórico de Mel e imediatamente torce pela moça, que é inteligente, perspicaz e tem respostas ácidas na ponta da língua quando desafiada. A coragem da personagem tira um pouco o fardo repetitivo das donzelas em perigo típicas de romances do gênero dando um sopro tímido de novidade ao roteiro.
Martin Henderson está perfeito. O jeito misterioso, sedutor e generoso caem como uma luva e é simplesmente impossível odiar seu personagem Jack, mesmo quando este está imerso em dúvidas e traumas ou até mesmo quando aposta no romantismo por vezes até piegas.
A série é despretensiosa e funciona mesmo apostando no simples, tendo como arco mais movimentado a ação dos traficantes que vivem nos arredores da cidade.
Virgin River é, portanto, a ausência da novidade, embora seja a prova de que não se precisa de nada muito mirabolante para cativar o público. Eu costumo premiar sempre a ousadia, mas não vou negar que é difícil não se envolver com essa singela história que nos ensina bem como as adaptações que a vida nos impõe são difíceis, porém se reinventar pode ser a saída.
Nota: 7,5
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