Novo filme de Christopher Nolan exige demais do espectador e se perde dentro de sua pretensão de soar mais inteligente do que realmente é.

Sinopse: Um homem deve correr contra o tempo para salvar o mundo de tecnologias perigosas enquanto luta para descobrir mais sobre a misteriosa organização para qual trabalha.

Christopher Nolan é um dos diretores mais celebrados de Hollywood por conseguir reunir premissas criativas em blockbusters de sucesso e aclamados pela crítica. Ele já dirigiu filmes como Batman: O Cavaleiro das Trevas, A Origem, Interestelar e Dunkirk, mas em 'Tenet'Nolan faz seu filme mais problemático em anos. Toda a crítica aqui do Fórum Nerd costuma começar com uma sinopse da trama, mas o filme é tão estranho que eu não consegui achar uma única sinopse decente, obrigando-me a escrever uma própria. Essa estranheza não fica apenas na divulgação, a narrativa é cheia de problemas sérios que vão desde a lógica ao desenvolvimento dos personagens.

O longa é uma mistura de ficção científica com espionagem e tenta mesclar essas duas vertentes de modo inteligente, no entanto, o resultado é o oposto. Por mais que as cenas sejam muito bem dirigidas e visualmente instigantes, a todo momento fica a dúvida sobre o que exatamente está sendo contado pelo roteiro. Normalmente, manter um mistério ajuda a deixar o público investido na história, mas aqui, Nolan parece tratar a trama como se fosse um segredo privilegiado de seu próprio público. O filme começa e o espectador não entende o que está acontecendo e isso se estende por quase 40 minutos até que algo comece a fazer o mínimo sentido.

O protagonista da trama cujo o nome não sabemos em momento algum é interpretado por John David Washington e por mais que o ator seja bom, não existe o menor valor de empatia nesse personagem. Ele é usado como uma manivela do roteiro para apresentar esse mundo, mas esquecem de dar um desenvolvimento de personagem significativo ou no mínimo alguma empatia. O protagonista é o típico espião que só liga para a missão e tem uns vislumbres de humanidade quando cruza caminhos com uma mulher com história trágica, abordagem clichê e entediante que não decola em nenhum instante.

Robert Pattinson interpreta Neil, um agente secreto que atua como parceiro do protagonista e o auxilia nas missões. O ator tem um personagem um pouco mais carismático, mas ainda sim, sofre dos mesmos problemas do primeiro. O pouco que sabemos sobre ele, está contido na descrição que fiz no início do parágrafo e conforme o filme avança, descobrimos um pouco mais, porém as respostas dadas mais frustram que apaziguam a curiosidade do público. Elizabeth Debicki interpreta Kat, uma mulher que sofre mas mãos do marido abusivo Andrei Sator (Kenneth Brannagh) que também é o antagonista da história.

Kat é a personagem que mais gera empatia na trama por conta de sua situação complicada com um marido violento e que a impede de ver o filho por conta de ciúmes doentios. Só que Nolan desperdiça a boa trama dela com clichês e diálogos muito vergonhosos, além da atuação de Debicki e Brannagh estar fora do tom que as cenas exigem. Por exemplo, em certo trecho, ele descobre algo e começa a bater nela, só que as atuações e a escolha de ângulo da cena, impedem que o momento seja cruel como deveria, perdendo o impacto dramático. Os diálogos também são um problema, quando não são desnecessariamente complicados, são simplistas de um modo que incomoda pela artificialidade. Num mundo de espiões, sempre são ditas meias verdades, mas aqui o roteiro abusa disso e trata o público como idiota ignorando coisas que a própria história estabeleceu.

A ficção científica da trama é descrita como uma espécie de inversão temporal, na qual, através de um certo equipamento, pessoas podem viajar no tempo ou fazer com que objetos ignorem as leis da física. As cenas de ação que envolvem esse conceito são muito bem dirigidas e a todo momento desafiam o sendo de linearidade do espectador com cenas que vão tanto para frente quanto para trás. Essa é a maior virtude do filme, oferecer uma ação na qual o público é desafiado a confrontar sua próprias ideias de temporalidade a fim de embarcar no conceito que a trama exige.

Apesar do roteiro medíocre, Nolan sabe dirigir as cenas com muita maestria sempre extraindo o melhor ângulo dos diferentes cenários e a preferência dele por efeitos práticos ajuda a dar um ótimo senso de realismo numa premissa tão absurda.

A edição merece muitos aplausos por conseguir juntar tantos momentos distintos no sentido físico em uma única cena. Por exemplo, há cenas em que há tanto pessoas quanto objetos movendo-se em direções opostas e a montagem conseguiu deixar esses momentos bem frenéticos e brincar com as expectativas do público do que iria acontecer. Quando uma bomba vinha numa direção, você nunca sabe se ela está invertida ou não, logo ela pode tanto acertar os personagens quanto fazer o sentido inverso e retornar para o ponto de origem. Isso causa uma certa estranheza inicialmente, mas conforme o filme passa, essa sensação diminui aos poucos.

Um ponto que devo reclamar é da trilha sonora de Ludwig Göransson, ele usa temas muito estrondosos nas cenas de ação e a edição de som os deixou demasiadamente altos, dessa forma, o alto volume além de poder dar uma dor de cabeça no público, também tira a imersão de vários momentos.

Por fim, vale destacar que no terceiro ato, há um certo exagero nas cenas de inversão e aliados a já citada música alta, torna vários momentos muito cansativos visualmente. Acredito que a tentativa de enfatizar o quanto eles poderiam fazer cenas instigantes prejudicou muito o terceiro ato, chega uma hora em que tanta gente inverteu que não se sabe mais quem é quem e o roteiro não quer se fazer entender. Inclusive, um fato curioso é que no início da projeção, certa personagem afirma para o protagonista que seria melhor não pensar na lógica dos acontecimentos, conselho esse que permeia toda a trama, pois quanto mais é revelado, menos a coisa toda faz sentido.

'Tenet' é um filme interessante, mas a pretensão de ser mais inteligente do que o público faz com que ele seja uma experiência incompleta.

Nota: 5,0

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