Novo anime da Netflix faz um bom trabalho ao explorar a mitologia grega de modo fiel e interessante, ainda que não seja perfeito.
Sinopse: Um plebeu que vive na Grécia antiga descobre que é filho de Zeus e que seu propósito é salvar o mundo de um exército demoníaco.
O Sangue de Zeus é o mais recente anime de ação da Netflix e aposta na mitologia grega para contar sua história recheada de tragédias e aventuras. A série é uma criação de Charles Parlapanides e Vlas Parlapanides, a animação ficou por conta da Powerhouse Studios Animation, mesma companhia responsável pelo ótimo Castlevania. A trama foca-se na descoberta do jovem Heron (Derek Philips) da sua herança divina como filho de Zeus (Jason O'Mara) e na sua luta para salvar o mundo de um exército de demônios comandado por Serafim (Elias Touxefis).
À primeira vista, chama a atenção o fato de que os responsáveis pelo roteiro fizeram uma excelente pesquisa tanto dos mitos quanto das questões sociais da Grécia antiga. Todo o preconceito que o protagonista e sua mãe sofrem são por conta tanto de questões divinas quanto por questões de conjuntura social da época. Inicialmente, Heron é visto como um bastardo pela sociedade da polis na qual reside, então ele é alvo constante de agressões, explorações e sofre com fome por não conseguir um pagamento justo por seus serviços. Apesar de ser vista como o berço da democracia, a política da Grécia só podia ser exercida por homens bem nascidos, com posses e brancos, portanto quem foge desse padrão costuma ter uma vida mais difícil e esse é o caso de Heron.
A vida dele muda quando descobre ser filho de Zeus, o grande rei do Olimpo e Deus dos Raios. Para o bem e para o mal, essa herança traz muitos problemas e com o país em guerra contra demônios criados pelos gigantes, fica claro que uma típica jornada do herói será o foco da narrativa. Ainda que isso aconteça, o anime explora bem os deuses do Olimpo dando a eles todas as características presentes nos mitos, por exemplo, Zeus é apresentado como um mulherengo e extremamente passional enquanto Hera (Claudia Christian) é uma mulher extremamente ciumenta e com sede de vingança. Toda a mitologia dos Titãs versus os Deuses aparece, porém os criadores tinham suas próprias ideias e decidiram usar uma ameaça própria para ser o principal antagonista da série.
Os personagens são bem carismáticos ainda que o uso de alguns deles tenham sido pouco proveitosos. Esse é o caso de amazona Alexia (Jessica Henwick) que apesar de ter um papel muito importante na história, é pouco desenvolvida em termos dramáticos, sendo apenas o clichê de mulher bad-ass e pouco comunicativa. Heron é o típico protagonista que tem sua jornada iniciada na dor da perda de um ente querido e não foge muito disso. Inclusive, um problema da trama é que ele sofre tanto por conta das manipulações dos deuses que não faz sentido que em certo ponto decida lutar por eles. Na contrapartida, o vilão Serafim é o melhor personagem da história e tem um arco clichê, mas que funciona bem melhor que os dos mocinhos. Ele é uma pessoa definida pela dor e não conhece outra forma de expressão no mundo que não seja através da violência, fazendo com que seja um antagonista mais humano e implacável.
O núcleo do Olimpo é composto por vários deuses, mas os destaques são Hera e Zeus que possuem uma relação muito tumultuada por conta das traições e filhos bastardos do Deus dos Raios. Esse é a principal rixa da história, pois ela cansada de ser traída, resolve conspirar contra seu marido a fim de tirá-lo do trono e ter sua vingança pelas humilhações sofridas. Um ponto que devo ressaltar na abordagem dessa personagem, é que os roteiristas a vilanizam demais enquanto que os erros de Zeus tão ou mais graves que os dela são meio que ignorados. Isso faz com que a trama ganhe um ar maniqueísta e tira o potencial dramático, pois os deuses são retratados como “virtuosos” demais sendo que comentem atos de puro egoísmo e maldade contra os seres humanos.
No que tange à animação, o design lembra muito o usado em Castlevania, mas aqui o físico dos personagens é mais elegante, basta observar os traços no rosto e corpos que nota-se a inspiração em estátuas da Grécia antiga com os torsos bem delineados e um físico de atleta. A arquitetura é muito boa também, o design do Olimpo faz referência à vários estilos e construções da época com o uso de colunas, templos, pórticos e muita simetria. Minha única reclamação é no que diz respeito à fluidez dos movimentos, em diversas cenas há uma rigidez muito aparente na movimentação e expressividade dos personagens, fato esse que prejudicou algumas cenas de ação. Por fim, devo ressaltar que apesar do bom trabalho na construção do roteiro, existem muitos momentos previsíveis com as reviravoltas sendo bastante óbvias, ainda que o final seja até surpreendente dado o que fora estabelecido no início da história.
O Sangue de Zeus é um bom anime de ação que deve divertir os entusiastas da mitologia grega.
Nota: 7,0
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