Representatividade no Natal? Temos! Com leveza e risadas garantidas ainda por cima.

Happiest Season é mais uma comédia romântica natalina pra divertir o nosso final de ano. Com direção de Clea Duvall, nos Estados Unidos ela foi lançada pela Hulu, no dia 25 de novembro, e a previsão é que chegue ao Brasil em janeiro de 2021 com o nome Alguém Avisa?.


O longa conta a história de Abby Holland (Kristen Stewart, Saga Crepúsculo), que é convidada por sua namorada, Harper Caldwell (Mackenzie Davis, O Exterminador do Futuro – Destino Sombrio), para passar o feriado de Natal na casa dos pais da amada, data essa que muito fragiliza Abby, em razão da perda de seus pais. Ela só não imaginava que esse convite tinha nascido do ímpeto e do calor da emoção, haja vista que durante a viagem Harper acaba revelando não ter contado à sua família a respeito do relacionamento das duas e muito menos sobre sua sexualidade.

Ainda assim, as duas seguem caminho, dispostas a manterem essas informações em segredo, ao menos até acabarem as festividades, enquanto usam como “disfarce” a história de que são apenas boas colegas de quarto. É claro que manter um script é algo deveras complicado e os cinco dias reservam muitos desafios e confusões para o casal.

Já na casa dos Caldwell, Abby percebe uma atmosfera onde as aparências importam acima de tudo. O pai de Harper, Ted (Victor Garber, Titanic), pretende se candidatar a prefeito de sua cidade e para que isso se concretize, ele precisa mostrar que sua família é tradicional o bastante para um cargo onde o conservadorismo prevalece.


Abby não demora a se sentir desconfortável e até mesmo constrangida, enquanto assiste a uma namorada completamente diferente da que está acostumada, quando Harper está na presença da família e amigos. É como se a filha de ouro dos Caldwell competisse o tempo todo para cumprir as expectativas familiares independentemente dos seus sentimentos pessoais e sem medir as consequências disso para as pessoas a sua volta.

Apesar de beber da fórmula mais comum de todas no aspecto de encontros e desencontros familiares, o filme traz muito bem a representatividade consigo. Como é bom ver um romance lésbico com um toque mais leve chegar às telonas com o devido protagonismo em um cenário onde quase 100% das comédias românticas de final de ano exploram enredos com casais heterossexuais em destaque. Já passou da hora da indústria explorar e dar holofotes para histórias LGBTQI+, afinal representatividade genuína é isso.

Alguém avisa? traz cenas hilárias, boa parte delas lideradas pelo personagem de Daniel Levy, que interpreta John, o melhor amigo de Abby (por um momento achei que ele fosse o Leonard de The Big Bang Theory, em razão da tamanha semelhança!). Mesmo sendo coadjuvante, suas aparições são precisas e acertam o tom de comédia. Além disso, é ele quem é o porta voz de uma das principais mensagens do filme, que é a de que cada pessoa carrega uma história, uma particularidade. Muitas vezes julgamos, usando nossas próprias histórias como régua, ou até mesmo generalizamos. Contudo, não se pode avaliar a decisão de uma pessoa, sem conhecer o que ela vive ou viveu de fato. 


Mary Holland, que interpreta uma das irmãs de Harper, Jane, também garante divertimento por seu jeito atípico e caricato que funcionam muito bem no contexto. Como a história bem mostra, o diferente, que deveria ser motivo de encantamento, muitas vezes é visto como algo destoante. Jane traz à tona a realidade de muitas famílias, onde alguns filhos ganham mais destaque do que outros, o que acaba por instalar uma disputa por afetos que às vezes custa caro demais aos envolvidos.

Mackenzie Davis é um achado. Ela, que ganhou os holofotes especialmente por sua apaixonante atuação em um dos episódios mais marcantes de Black Mirror: San Junipero, onde também interpretava uma personagem lésbica, novamente repete um precioso trabalho. Ela é carismática, tem facilidade para transmitir emoção e possui um olhar que diz muito.  Sua personagem Harper traduz um dos principais dilemas do filme que é a escolha. Ela precisa, de certa maneira, escolher entre sua família ou o amor de sua vida, uma vez que não tem certeza sobre como seus pais agirão ao conhecê-la de fato em sua essência.

Agora vamos falar do grande nome do filme. Aquele que gera a repercussão e atrai a atenção, que é Kristen Stewart. Apesar de ter interpretado Bella, a protagonista da saga de sucesso Crepúsculo, ainda no início de sua carreira, sua atuação costuma ser colocada em cheque por parte da crítica e público. Apresentando ótimo desempenho em outros longas como em Marcados pela guerra, onde ela interpreta uma soldada enviada a uma missão na prisão de Guantánamo e acaba criando um vínculo de amizade com um dos presos, bem como Lizzie, onde interpreta uma criada que se envolve num trágico assassinato, me dói dizer que Kristen não se encontrou na comédia.

A impressão passada mais parece de dependência do resto do elenco e de inexpressividade, algo que não pode existir sobretudo quando o objetivo é divertir. Sua atuação é, portanto, um dos pontos fracos do filme, ainda que sutilmente maquiada pelo brilho do restante do elenco. Vale ressaltar, que nas partes que exigiam romantismo e drama, a atriz consegue a adequação necessária, ainda que na zona de segurança, e o casal Abby e Harper convence afinal de contas, o que faz com que torçamos por ambas.

O filme tem cenários legais, bem a cara do Natal, com aquele friozinho de dar inveja e não só faz rir, como emociona e dá ensinamentos fundamentais sobre a importância de mostrar realmente ao mundo quem você é, sem filtros e preconceitos. Acrescento ainda que esse é o melhor filme da safra natalina até agora, mesmo com suas imperfeições e clichês. Uma pena a demora de sua chegada aos streamings brasileiros.

Nota: 7,5

 

  

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