A escolha de uma série é uma experiência muito pessoal. Enquanto alguns fazem isso com minúcia, pesquisam antes a sinopse, leem críticas a respeito, observam a popularidade da série em si, outros, por sua vez, fazem a escolha de uma forma até bem aleatória. Existe algo comum, no entanto, que nasce a partir disso e que une boa parte desses telespectadores: o vínculo afetivo com a trama. Muitas vezes criamos afeição pelos personagens, de forma que os reconhecemos como semelhantes, até mesmo familiares, o que chega a parecer insanidade, mas que revela bem a magia daquilo que a TV nos oferece.
Uma vez o vínculo afetivo criado, é compreensível que queiramos, por conseguinte, acompanhar o início, o meio e o fim dessas tramas. Queremos de fato saber o destino dos nossos personagens queridos pra assim seguirmos em frente. Entretanto, na prática não é bem isso que acontece. Hoje os canais de TV e plataformas de streaming produzem uma quantidade considerável de séries anualmente, visando atender o público diversificado e ativo. Tais produtos podem custar um montante considerável e sua renovação está ligada diretamente aos números/resultados que ele apresenta, traduzindo: audiência. A prioridade, portanto, é a série aliar um custo baixo a uma audiência elevada.
Quando uma série passa a ser vista pelo canal como um prejuízo financeiro, ou como sendo pouco promissora, o projeto é cancelado, independentemente se a história teve ou não seu fim apresentado ao público. Infelizmente, nesse caminho, muitos fãs já se envolveram o suficiente e passam a se sentir órfãos de suas séries queridas.
Inúmeros são os exemplos de vezes em que fãs se tornaram órfãos de séries, contudo segue abaixo CINCO séries canceladas recentemente pela plataforma de streaming Netflix, uma das mais assistidas na atualidade.
1º - ANNE WITH AN E
Anne with an E conta apenas com três temporadas, sendo sem dúvida a maior injustiçada dessa lista. Baseada no livro de 1908, Anne de Green Gables, a série canadense se passa no final do século XIX e mostra a história de uma órfã que é adotada por um casal de irmãos idosos que vivem em uma fazenda no interior. A princípio, o objetivo dos dois era adotar um menino para que ele fosse capaz de ajudá-los a cuidar dos afazeres da propriedade, entretanto Anne (Amybeth McNulty) é enviada por engano, e sua personalidade impetuosa e incomum rapidamente conquista os novos pais.
O que tem de especial nessa série? A mensagem! A história, que tem a classificação indicativa de 12 anos, trata de assuntos importantíssimos de uma maneira acessível para os mais jovens e ao mesmo tempo é capaz de emocionar e envolver o público adulto. Anne é uma adolescente que luta contra os preconceitos de sua época e a frente de seu tempo. Uma linda história sobre empoderamento feminino, amizade e valores familiares reais.
Uma pena a história ter acabado tão precocemente, com um desfecho visivelmente improvisado, ainda que aceitável, deixando lacunas notáveis. A série contou com um recorde inédito de assinaturas (mais de um milhão) em uma petição que pedia a quarta temporada da série que ainda se encontra disponível no catálogo da Netflix.
2º - THE OA
Com o sucesso de Dark, fica até difícil entender porque The OA não teve um destino parecido. Diferente de Anne With an E, ela conta com duas temporadas e não tem desfecho algum. O telespectador literalmente é abandonado sem respostas para a maior parte de suas perguntas. A história é riquíssima, inteligente e bem diferente de tudo o que você viu. Ela é centrada em Prairie, interpretada por Brit Marling, que é também criadora da série, uma jovem adotada e inicialmente cega, que reaparece sete anos depois enxergando perfeitamente e sem revelar o que aconteceu durante seu desaparecimento. A trama envolve experiências de quase morte, portais, multiversos e é complexa sim, o que justifica sua menor popularidade, contudo é intrigante, bem escrita e sem dúvida merecia ao menos mais uma temporada para selar um fim um pouco mais apropriado.
3º - I AM NOT OKAY WITH THIS
Sidney Novak (Sophia Lillis) é uma adolescente que passa pelos desafios típicos da idade, que perdeu o pai recentemente, e que no meio disso tudo descobre que possui super poderes. O enredo tem os componentes essenciais e os personagens são um prato cheio pra o estilo nerd e para o público que é ávido por narrativas no estilo Stranger Things.
O último episódio de I am not okay with this é quase uma
homenagem a Carrie: A estranha, obra
de Stephen King, e ele nos sinaliza que estaríamos prestes a obter respostas
acerca dos poderes da protagonista e a relação disso com a morte de seu pai. Mas não teremos tais respostas, pois essa só foi mais uma série atingida
pela guilhotina com crivo duvidoso da Netflix, logo após sua primeira temporada.
Como não chorar com um término precoce como este?
4º - AWAY
Estrelada por Hillary Swank, vencedora do Oscar por Menina de Ouro, que interpreta a comandante Emma Green, a série que mistura de forma bem sucedida o drama e a ficção científica, acompanha o dia a dia da primeira missão tripulada à Marte. Os efeitos são de tirar o fôlego e, certamente, foram uma das razões do cancelamento pelos elevados custos de produção, porém o foco principal do enredo em si são as relações entre os tripulantes e destes com suas famílias. Pra tristeza dos fãs, a história termina justamente com a equipe conseguindo alcançar o planeta vermelho após inúmeros obstáculos nessa difícil e longa viagem. Se dará certo ou errado o desenrolar da missão, nunca saberemos.
5º - SPINNING (SPIN) OUT
Estrelado por Kaya Scodelario, uma atriz anglo-brasileira que estará em evidência em breve no reboot de Resident Evil, o drama aborda a patinação no gelo, algo pouquíssimo explorado em outras séries e, ainda por cima, o transtorno bipolar que acomete não apenas a personagem central, a patinadora Kat Baker, como também sua mãe. A narrativa produzida para a Netflix aborda ainda situações de abuso e traz outros temas atuais e extremamente necessários de serem debatidos, embora tenha sido mais uma eliminada após uma única breve temporada.
Endossam a lista das canceladas ainda Glow, The Society, Altered Carbon, Messiah, Sense8 e ela não para por aí. A pergunta é: isso vai continuar assim? Teremos que parar de assistir séries estreantes, para evitar uma possível “perda” de tempo?
Minha sugestão ao público tem sido optar por histórias compactas, no estilo minissérie como Olhos que Condenam, Inacreditável, A Maldição da Mansão Bly, porque ao menos temos a certeza de acompanhar o término. Para os canais, fica o apelo de ao menos oportunizarem aos autores a chance de desfecho. Por exemplo, se a série não atingir a audiência desejada, o criador ao menos receberia a proposta de fazer uma temporada seguinte e conclusiva. Acho que seria o mínimo para respeitar os envolvidos e, em especial, os telespectadores.
Enquanto não observamos essa mudança de comportamento por parte dos canais e plataformas, nos resta pressioná-los com petições e tags nas redes sociais. Afinal de contas, NÓS somos a audiência.
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