Documentário distribuído pela gigante de streaming Netflix levanta questões de suma importância e pertinentes à atualidade, ainda que de forma polarizada. 


Lançado em 9 de outubro de 2020, O Dilema das Redes trabalha com as nuances persuasivas das redes sociais e os impactos destas sobre a sociedade ao mesclar relatos de especialistas e os dramas de uma família fictícia.  


De forma orgânica, o diretor Jeff Orlowski apresenta de maneira didático-pedagógica os mecanismos por trás das gigantes de tecnologia para manter você e eu vidrados em nossos smartphones. E este é o grande mérito da obra: a facilidade com que as informações são passadas, democratizando conhecimentos do mundo high-tech que, embora presentes no cotidiano, são desconhecidos pela grande maioria.  


Com a modernização dos meios de comunicação e os adventos tecnológicos do último século, como a própria internet, mais dependentes nos tornamos de nossos aparelhos eletrônicos, muita das vezes, por puro comodismo. Pedir comida sem sair de casa? Transporte? Conversar? Tudo ao alcance dos nossos dedos.  


Um ponto interessante levantado pelo documentário é justamente essa facilidade. Uma frase, inclusive, destaca-se: “se você não paga pelo produto, é muito provável que o produto seja você”, atribuída ao jornalista Andrew Lewis. É um tanto quanto assustador, mas com um fundo de verdade. Como deixado claro pelos especialistas entrevistados, as redes sociais consomem seu tempo, coletam seus dados, traduzem seus gostos e então começam o trabalho: o bombardeio de propagandas que tem como objetivo único impelir você à compra.

  

The Social Dilemma (no original) é, em vários momentos, perturbador por sua precisão: conforme você vai assistindo mais você percebe, por conta própria, as técnicas utilizadas por essas gigantes da tecnologia. Técnicas essas que, ironicamente, reverberaram pela internet e que culminaram em uma resposta pública do próprio Facebook.  


Em outro momento da obra, é tratado sobre a necessidade de autoafirmação dos indivíduos. Ou seja, o desejo de ser notado e aceito, evidenciando, na verdade, uma ligeira solidão. É paradoxal se parar para pensar: com tantas maneiras de conectar-se às pessoas, ainda existe tal sentimento. Nesse ponto, acabei por lembrar de Sociedade do Espetáculo, de Guy Debord, no qual há toda uma ideia da manipulação da imagem para criar uma falsa perfeição, um instrumento de exercício do poder. É, pura e simplesmente, a espetacularização da vida. 


No entanto, diante de tantos pontos positivos, o roteiro de Jeff, Davis Coombe e Vickie Curtis peca ao trabalhar com uma clara dicotomia do bem e do mal, posicionando as redes sociais como as verdadeiras vilãs da história. Logo, antecipo: não são. Pelo menos, não as únicas. Desde o surgimento dos veículos de imprensa, com potencial aprimorado de atingir as massas, o poder de persuasão sobre a sociedade é algo real. Apenas foi maximizado pela Revolução Técnico Científica Informacional do século XX. No fim do dia, não importa o quão chamativa seja a propaganda ou promoção: a mesma facilidade que se tem de clicar nelas, há para ignorá-las.  

Além disso, a produção se propõe a discutir a falta de uma regulamentação mais rigorosa quanto às redes no que tange à propagação de fake news e o verdadeiro artifício do controle de dados sobre a criação de indivíduos consumistas. 

  

À vista das ideias supracitadas, O Dilema das Redes é uma parada obrigatória para qualquer pessoa que tenha interesse em ter uma visão mais ampla e crítica sobre o assunto.  


No mais, a nota atribuída ao documentário será puramente simbólica. Ao invés disso, proponho, por meio da leitura desse texto, somada à experiência de se ter assistido à produção, uma reflexão profunda sobre os impactos das redes sociais e a relação destas com a saúde de uma sociedade cada vez mais mentalmente debilitada.  

Nota: 9/10

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