Sinopse: Acusado de assassinato, um homem deve descobrir como derrubar um sistema onde tempo é dinheiro e que permite que os ricos vivam para sempre, enquanto os pobres devem implorar por cada minuto de suas vidas.
Em um mundo onde tempo é dinheiro, “O Preço do Amanhã” seria aquele tipo de investimento inicialmente promissor, mas que com o tempo revela-se decepcionante. O diretor Andrew Niccol teve uma ótima ideia para uma ficção científica, mas se esqueceu de dar um significado mais profundo para tudo aquilo. Existem toda uma série de metáforas em relação ao mundo real na trama e por mais que sejam até bem inteligentes, não são suficientes para fazer esquecer a pieguice do roteiro dele que é deveras clichê.
Will Salas (Justin Timberlake) é o típico personagem bom coração que faz tudo em seu poder para ajudar os que precisam e mora num bairro onde as pessoas morrem constantemente pela falta de tempo como também pelos assaltos. O ar heróico desse personagem chega a irritar em certos momentos, pois ele é extremamente unidimensional. Todas as camadas que o roteiro tenta dar ao personagem são fracas e pra piorar a atuação canastrona de Timberlake não ajuda. A vida dele muda quando o milionário Henry Hamilton (Matt Boomer) dá ele um século de vida por tê-lo ajudado numa situação difícil.
A partir daí, a trama ganha contornos mais “políticos” com Salas descobrindo que o sistema favorece apenas os mais ricos e decide agir como um justiceiro social para dar esperança para os oprimidos. Só por isso que eu escrevi, dá pra ter uma noção do quão clichê é essa trama, mas isso não seria demérito caso o roteiro aprofunda-se melhor o comentário social. Ao invés disso, ele investe em cenas baratas de desafio ao sistema com diálogos tão imbecis que dão muita vergonha alheia. Basta dar uma olhada nas conversas entre Will e Sylvia Weis (Amanda Seyfried), os dois são tão óbvios juntos que não é de se espantar que sejam um casal conforme a trama avança.
Falando em Sylvia, vale ressaltar que ela é a típica privilegiada alheia da realidade do mundo, mas que sempre teve empatia pela situação dos pobres. Quando conhece Will, ela começa a acordar para a vida e decide ajudá-lo em sua busca por igualdade num sistema injusto. Eventualmente, os dois acabam se apaixonado e a relação é uma mistura de Romeu e Julieta com Bonnie e Clyde só que sem o mesmo carisma.
As cenas de ação do filme são bastante comuns e não tem nada que as destaquem de um modo geral, aliás o design de produção é totalmente sem imaginação também. Para um mundo futurístico que faz modificação genética avançada, não parece que nada mudou muito em relação à sociedades mais antigas. Essa falta de criatividade estende -se por outras categorias técnicas como fotografia, figurino e trilha sonora.
Por mais que não fosse um grande filme, ele diverte bastante pela primeira hora, porém passado esse tempo, decai vertiginosamente e emburrece até os bons momentos que tinha construído anteriormente. Um exemplo disso é quando os protagonistas começam sua luta contra o sistema e parece funcionar por um tempo, contudo depois o roteiro tenta fazer uma reviravolta tão ridícula que sua menção naquele exatamente momento te faz questionar o porquê eles não fizeram isso antes. Falando em ridículos, os vilões da trama são tão caricatos que deu até pena do casal por ter que lidar com pessoas tão burras.
O guardião do tempo Raymond Leon (Cillian Murphy) é o típico servo fiel do sistema que não questiona suas injustiças e apenas liga para cumprir seus objetivos mesquinhos sem importar-se com os outros. Já o pai de Sylvia, Philippe Weis (Vincent Kartheiser) é o típico capitalista malvadão que só busca manter um sistema desigual para que possa viver para sempre. Tanta a atuação de Murphy quanto de Kartheiser são bem ruins e tiram muito da imersão da trama.
Por fim, é importante dizer que as metáforas sobre desigualdade social, distribuição de renda, truculência policial e capitalismo selvagem seriam bem melhor tratadas nas mãos de um roteirista mais competente, pois aqui não são bem utilizadas empobrecendo em muito a obra. Uma referência por referenciar é tão vazia quanto um juramento feito em vão e nesse filme as ideias estão muito dispersas sem algo que as una de modo coeso para fazer sentido na proposta.
“O Preço do Amanhã” seria um filme interessante caso caísse em mãos mais competentes.
Nota: 4,0
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