Nova versão da famosa lenda de Hua Mulan tem boas ideias e diverte, mas faltou desenvolvimento aos personagens.
Sinopse: Quando o Imperador da China emite um decreto estabelecendo que um homem de cada família deve servir no exército imperial para defender o país dos invasores do Norte, Hua Mulan, a filha mais velha de um honrado guerreiro se apresenta no lugar de seu pai adoentado. Disfarçada de homem, como Hua Jun, ela é testada a cada etapa do caminho e deve controlar sua força interior e abraçar seu verdadeiro potencial.
Acho que todos podem concordar que 2020 está sendo um ano de muitas surpresas e a maioria delas com um impacto negativo em nossas vidas. Se em 2019, alguém chegasse e dissesse que a Disney iria lançar o live action de “Mulan" em streaming, eu chamaria de doido. Porém, esse é o nosso presente, através do Disney +, o filme foi lançado e confesso que foi uma experiência diferente, mas vamos por partes.
Em primeiro lugar, vale ressaltar que o filme não tem os elementos que tornaram a versão animada de 1998 tão querida pelos fãs da Disney. Há algumas referências aqui e lá, mas se trata de uma história com uma pegada bem mais madura e que dialoga em muito com temas modernos. A diretora Niki Caro tem um bom olho estético, desde os cenários ao figurino, tudo é feito para encantar o espectador com cenas bem fotografadas e com um certo “simbolismo” sobre a jornada de uma mulher saindo das rédeas que a sociedade lhe impôs para ser quem verdadeiramente é.
Essa é a jornada Hua Mulan (Liu Yifei), uma jovem de um pequeno povoado que é dotada de uma grande habilidade com artes marciais, mas que deve reprimir seu dom, pois não é dever da mulher lutar no contexto daquela sociedade e às que fazem isso sofrem com perseguições ou desonra. Há todo um elemento interessante no fato de Mulan ser “diferente” dos demais, porém o roteiro é apressado e não se aprofunda nas ramificações que isso poderia trazer para a personagem. Toda essa parte em que deveríamos conhecer Mulan é pouco eficiente e só temos diálogos clichês sobre dever que não funcionam devido à sua alta canastrice.
Aliás, um ponto extremamente incômodo é a falta de espontaneidade dos diálogos, você pode prever exatamente o que cada pessoa dirá em certa situação e há toda uma artificialidade em debates que deveriam ser mais explorados tais como no arco da feiticeira Xian Ling (Gong Li). Essa personagem é dotada de um visual muito imponente e a história dela tinha potencial, contudo ela é reduzida a fazer poses legais para as câmeras enquanto que seu discurso de ser uma “vítima” da ignorância é pobre tanto em apresentação quanto em desenvolvimento.
Já Mulan é desenvolvida de forma clichê, mas a performance da atriz Liu Yifei consegue contornar isso deixando a heroína mais carismática. Basicamente, o arco dela é sua luta para conciliar seu desejo de ser quem é com os deveres que possui com sua família e essa parte é bem construída. Quando Mulan está treinando e se disfarçando, nota-se que ela faz isso apenas por amor ao pai, porém todos os progressos físicos em seu treinamento faz não apenas para cumprir seu dever, mas também como uma forma de autorrealização.
Sobre as cenas de ação, o longa pega muitos elementos de filmes wuxia e usa-os para criar uma ação mais fantasiosa com direito à subidas pela parede, saltos do telhado e desvios de flechas. Todos os elementos funcionam bem dentro do enredo e ajudam a dar uma diferenciada em comparação ao estilo tiro, porrada e bomba de Hollywood. Minha única reclamação é são poucas as cenas assim e a maioria acontecem mais para o final da película.
Nota-se que o roteiro é o maior problema desse filme, pois os demais elementos funcionam dentro do possível. Uma coisa incômoda foi o uso da tal fênix que não serve para absolutamente nada além de criar cenas com um simbolismo barato sobre empoderamento, poderiam ter retirado esse elemento que ficou muito solto na narrativa.
Existe também um problema com a direção que não sabe dar um bom andamento à momentos chave da trama, por exemplo, quando Mulan deixa sua casa, é muito ridículo que o fato seja tratado de maneira tão displicente no núcleo da família. Tem uma cena com uma montagem estranha, alguns diálogos furrecas e é isso sendo que por lógica deveria ser um momento poderoso tanto visualmente quanto dramaticamente na história.
Por fim, a trilha sonora de Harry Gregson-Williams não se destaca muito soando bem genérica com nenhum tema original sendo marcante, até as versões instrumentais das músicas da animação de 1998 ficaram um pouco apagadas.
Mulan é um filme decente, mas faltou mais substância ao seus personagens.
Nota: 5,0
Postar um comentário