Novo filme de Robert Rodriguez é muito divertido, porém o excesso de clichês incomodam.


Sinopse: Abandonada em um ferro-velho de Iron City, a ciborgue Alita (Rosa Salazar) é encontrada pelo cientista Dyson Ido (Christoph Waltz). Revitalizada, ela acorda sem memória e reconhecimento do mundo em que se encontra. Determinada a conhecer seu passado e explorar suas habilidades surpreendentes de luta, Alita se torna uma poderosa caçadora de recompensas, combatendo forças mortais.

Alita: Anjo de Combate é um filme baseado no mangá "Gunnm" de Yukito Kishiro e conta com a direção de Robert Rodriguez e roteiro de James Cameron e Laeta Kalogridis. Esse é o tipo de película que encanta pelo carisma de seus personagens e pela excelente construção de mundo. Tudo que envolve a personagem título é feito com o propósito de humanizá-la e gasta -se um bom tempo desenvolvendo o arco de transição dela de ingênua para uma soldado com uma missão.

Inicialmente, somos apresentados à uma Alita mais inocente cuja a performance de Rosa Salazar faz funcionar muito bem. Os olhares dela, o jeito como admira as coisas e sua pureza naquele momento são elementos que ajudam o espectador a gostar da personagem. É quase como se ela fosse um bebê recém nascido num mundo obviamente complicado é perigoso que é Iron City e através da experiência dela conhecemos esse mundo caótico.

O personagem do Dr. Ido serve como um porto seguro para a protagonista e é usado pelo roteiro para dar explicações acerca daquele mundo tanta para a Alita quanto para o público. Aliás, devo acrescentar que é gratificante ver que o Christoph Waltz não sabe apenas interpretar vilões, aqui é ele um homem que sofre pela dor da perda de sua filha, mas que sempre ajuda quem precisa e Waltz sabe transmitir o tom sereno de que o personagem necessita. O único ponto negativo sobre ele reside na insistência do roteiro em usá-lo para fazer dramas desnecessários, mas que no fim se resolvem de forma bem apressada e clichê.

Outros personagens como Hugo e a Dra. Chiren tem uma abordagem dramática confusa, pois a todo momento contradizem suas próprias ações e suas redenções são mau desenvolvidas. Os dois são o tipo de personagem que desejam se dar bem às custas dos outros, porém a chegada de Alita na vida dos dois muda suas motivações. Só que enquanto Hugo tem mais tempo de tela, a Dra. Chiren se resume a fazer pontas em algumas cenas não permitindo um bom desenvolvimento da personagem e desperdiçando uma boa atriz como a Jennifer Connolly.


Isso traz outro problema, o roteiro do filme. Há uma óbvia enrolação nos acontecimentos para deixar espaço para uma possível sequência, toda as motivações da guerra e do vilão Nova são muito mau exploradas e pior há todo um mantra clichê de bem vs mal que em nenhum motivo é explicado. Tão ruim quanto a enrolação são os diálogos, há tantos momentos clichês ruins que dá uma sensação de vergonha da ideia de romance desses roteiristas. A cena em que Alita oferece seu coração de forma literal para Hugo é um exemplo de momento cringe que não deveria existir.

Aliás, todo esse romance da Alita com o Hugo toma mais tempo do que deveria na narrativa, tanto que eles apelam para umas cenas bem convenientes quando isso se estende demais e trazem momentos bem preguiçosos como na parte em que eles deixam a cidade para ir numa nave antiga que surpreendentemente traz mais pistas do passado dela além de uma nova arma bem oportuna.

No que tange à direção de Robert Rodriguez, vale ressaltar que ele detém um bom domínio da narrativa com a trama tendo um ritmo agradável ainda que ele perca a mão em cenas excessivamente expositivas. As cenas de ação do filme são excelentes e cria todo um clima de tensão sempre que Alita toma decisões impulsivas que levam a conflitos. Aquela cena do bar com os Guerreiros Caçadores é o típico exemplo de calmaria antes da tempestade que deixa os nervos à flor da pele. Também é interessante ele usar ângulos de câmeras bem abertos sem muitos cortes para que a ação preencha a tela de forma frenética.

Só que devido ao fato dos personagens serem máquinas complexas, seria impossível realizar tais cenas de modo prático, então o filme tem uma computação gráfica que deixa crível todos esses embates e em poucos momentos ficam a sensação de artificialidade, pois as texturas são boas e convencem. O trabalho feito na construção dos olhos da Alita é muito bom, mesmo que oscile em qualidade em algumas cenas. Eles deram à personagem um olhar muito expressivo e a performance em motion capture de Salazar dá um toque final a esse bom trabalho. Outro aspecto positivo é o design de produção, nota-se que toda a Iron City é inspirada na estética cyberpunk com alguns visuais distópicos.

Alita: Anjo de Combate é um bom filme, mas sua abordagem excessivamente clichê e uma visível enrolação na história atrapalham seu potencial.

Nota: 6,5

Publicado por: Matheus Eira

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